Uma guinada nas suas ideias

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Capítulo 3

O motim

Entre os tripulantes do Sereia do Mar havia certo marinheiro que se destacava entre os outros por causa da sua força e tamanho descomunal.
Era um homem de aparência obscura, tinha o rosto largo, olhos negros, não tinha um único fio de cabelo sobre a cabeça.
Mostrava uma expressão arrogante e altiva, era do tipo que olhava as outras pessoas por baixo. Os seus modos eram condizentes com a sua aparência física.
O que mais chamava atenção naquele marinheiro não eram as suas características físicas, nem os seus modos, mas a sua destreza ao empunhar uma espada.
Era um homem oportunista, jamais aceitou a autoridade do capitão daquele navio, estava ali por uma questão de comodidade, esperava o momento certo para rebelar-se e tomar o posto de capitão.
Se há algo verdadeiro entre os piratas, é que não há lealdade entre eles, Nabal soube tirar proveito disso.
Através da chantagem e de outros meios sórdidos, juntou um grupo de outros homens que sob a sua liderança planejavam um motim e assim tomariam a embarcação.
O momento que eles esperavam havia chegado àquela era uma noite calma uma lua cheia no céu refletia sobre um mar calmo que mais parecia um espelho não havia ondas, o vento era calmo, as velas tremulavam levemente.
Melchior estava no convés recostado em um dos mastros, descansava de um dia duro de trabalho, sua tranqüilidade foi interrompida quando ouviu um barulho vindo do porão, se aproximou abriu uma portinhola que dava para o porão desceu as escadas estava muito escuro lá embaixo havia um grupo de marinheiros que iluminados pela luz de uma lamparina conversavam quase aos sussurros.
Eles estavam reunidos em um pequeno círculo, no centro estava Nabal, parecia dar ordens, Melchior tentou se aproximar mais, até que ouviu essas palavras:
__ esse é o momento que esperávamos senhores (falava Nabal para os seus subordinados) vamos tomar posse desse navio, o capitão que aí está não tem fibra para comandar uma embarcação como essa, ele mancha a reputação dos piratas.
Vamos todos à cabine dele e o prenderemos enquanto ele ainda dorme. Amanhã toda a tripulação o verá preso ao mastro principal, aí sim mostraremos quem manda nesse navio.
Ao ouvir isso Melchior tentou escapar em surdina e avisar ao capitão, correu as escadas o mais rápido que pode, deu com um balde que estava colocado sobre um dos degraus, foi um estrondo daqueles, e naquele instante a sua presença não estava mais oculta, apesar de toda a escuridão que o cercava.
__ Ouça chefe, temos um espião. (falou um dos companheiros de Nabal)
__ O que você está esperando para pegá-lo?
Melchior corria desesperadamente, subiu as escadas, alcançou o convés, enquanto corria na direção da cabine do capitão, seus passos eram seguidos de perto por um sujeito que mais parecia um macaco, ele pulava de corda em corda, andava sobre as velas, até que conseguiu colocar-se a frente de Melchior, e agarrando uma das redes que estavam penduradas, lançou-a sobre o rapaz que não encontrou meios de desvencilhar-se.
Nabal aproximou-se e observou Melchior preso á rede.
__ Muito bem Marreta, pegamos esse intrometido, prenda-o, ele terá o mesmo destino que o nosso outro prisioneiro, agora vamos homens, temos um peixe maior para fisgar.
Marchavam em comitiva para a cabine do capitão, Nabal seguia na frente enquanto era seguido pelos homens que julgava serem leais a ele, como já disse não há lealdade entre piratas.
Abriu a porta com um único pontapé, Marmud que dormia tranqüilo, foi acordado pelo barulho, ao ver toda aquela comitiva á sua frente entendeu logo o que estava acontecendo, tentou apanhar o seu punhal e a sua pistola que estavam pendurados na cabeceira da cama, mas foi impedido ao ver uma pistola apontada para sua cabeça.
__ Ora capitão... é assim que o senhor retribui a nossa visita. (falava Nabal com o sarcasmo que era próprio da sua personalidade)
__ Eu sempre soube que um dia você me causaria problemas, desde o dia em que eu o contratei no porto das Ilhas Negras. Eu me fiz de cego, quis contar com as sua habilidade de marinheiro e não vi que alimentava uma víbora.
__ Ora meu caro eu sempre fui um bom marinheiro, sempre cumpri com as minhas obrigações para com esse navio, mas eu não nasci para ser subordinado a um capitão que não honra a reputação de pirata,e aceitar aquele frangote palaciano, como parte da tripulação, isso foi a gota d’água.
Agora chega de conversa, levem esse velhote e prendam junto com o outro, amanhã a tripulação vai assistir a um espetáculo inesquecível.
Enquanto Melchior e Marmud eram presos ao mastro principal Nabal e os seus homens mais chegados fartavam- se de vinho na cabine do capitão, brindavam às gargalhadas, traçavam planos e mais planos para o futuro daquele navio.
O sol se levantava do nascente e tingia o mar com seus raios, aquele era um amanhecer digno de ser admirado, mas na situação em que estavam, Melchior e o capitão nem atentaram para aquele momento, pois os dois eram vigiados por um sujeito sisudo que não arredava o pé a um metro de distância dos dois.
Melchior conseguiu dar um jeito e virou-se para o outro lado e pode dizer algo ao ouvido do capitão.
__ Senhor esse sujeito não me revistou como deveria, enquanto a maioria deles estava te capturando eu consegui esconder um pequeno punhal na minha calça, eu não vou conseguir pegá-lo mais talvez o senhor consiga. Enquanto eu distraio esse palerma, o senhor tira o punhal.
__ Quando eu cortar as cordas esteja preparado, pule em cima do vigia e dê um jeito de arrancar uma espada dele.
__ Certo.
Puseram o plano em prática, Melchior tentava distrair o pirata que os vigiava, ora ele berrava palavras as quais não convém que sejam repetidas aqui, basta dizer que não eram palavras dignas de serem ditas por um príncipe, ora ele cantava com toda a força que tinha nos pulmões algumas canções que aprendeu em seu pouco tempo como pirata.
Até que o marinheiro se enfezou de vez, e sacando uma faca, apertou-a contra o pescoço de Melchior.
__ Quer que eu mesmo dê cabo da sua vida miserável?
__ Calma, calma, estou só tentando espantar o medo, mas está bem,
Vou ficar em silêncio.
__ Assim eu espero.
A essa altura Marmud já estava perto de cortar a corda junto ao nó, Nabal se aproximava com seus homens, num instante toda a tripulação estava reunida envolta dos dois prisioneiros e Nabal discursava para todos eles.
__ Vejam homens esse dia será um marco na história dos piratas, hoje o Sereia do Mar terá um novo capitão, e daremos início a uma época de glórias e conquista.
Marmud cortava cada vez mais rápido, o tempo estava se esgotando, finalmente cortou a corda deu um pulo sobre um dos piratas que estava em sua frente agarrou a espada dele.
Melchior fez o mesmo com o marinheiro que estava vigiando os dois.
Marmud partiu para cima de Nabal que estava empolgado com seu discurso de posse que não se deu conta do que acontecera.
Marmud apontou o sabre que arrancara de um dos tripulantes, contra o pescoço de Nabal.
__ E agora, quem é o velhote? Vamos resolver essa situação como homens, em um duelo, homem a homem, até só restar um de pé, o que você me diz?
Era a maior prova de covardia para um pirata recusar o convite para um duelo, principalmente para Nabal que se gabava das suas habilidades como espadachim.
Ele apanhou uma espada de um dos seus companheiros e a luta teve início, as espadas se tocavam no ar, suas laminas reluziam iluminadas pelo sol que já estava alto.
Aquela era uma batalha memorável, ninguém interferia, afinal todo pirata sabe que não deve se meter em um luta que não é sua.
Nabal conseguiu atingir uma das pernas de Marmud, o sangue escorria pelo chão enquanto ele tentava manter-se de pé, com um golpe certeiro Marmud atingiu o braço com o qual Nabal segurava sua espada, que voou longe. Os dois correram tentando apanhá-la, ambos caíram no chão, Nabal consegui se recuperar e se colocou de pé novamente.
Marmud estava próximo a uma das cordas que prendia uma das velas, com um raciocínio rápido cortou a corda e a vela caiu em cima de Nabal antes que ele pudesse apanhar a espada. Nabal tentava se livra daquela lona que estava em cima dele, mas antes que o fizesse Marmud já havia pegado a espada e estava em pé próximo a ele quando finalmente conseguiu se colocar de pé novamente o capitão juntou as duas espadas contra o seu pescoço, como se as duas formassem as lâminas de uma tesoura.
Naquele momento percebeu que já não havia mais esperança para ele, por um momento passou pela sua cabeça suplicar de joelhos pela sua vida, mas logo se deu conta de que aquilo não era uma coisa honrosa para um homem como ele, melhor morrer com honra a viver como um covarde.
O capitão o empurrava para o beiral do navio, ele precisava restaurar a sua autoridade, nada melhor que dar cabo do seu inimigo na frente de todos os seus comandados.
__ Esse problema tem que ser resolvido aqui, se isso te conforta, foi a melhor luta que já tive, e você seria um bom capitão se a soberba não lhe tivesse subido à cabeça.
Isso tem que terminar agora não há espaço para dois comandantes nessa embarcação.
Foi uma das cenas mais horríveis que um homem pode presenciar. Com um único golpe o pescoço daquele pirata rebelde foi cortado como se fosse um mero pedaço de barbante cortado por uma tesoura afiada, enquanto o corpo decapitado de Nabal caiu no mar onde ficou boiando. Melchior aprendia outra lição sobre os piratas, aprendia que não há misericórdia entre eles.
A maioria dos seguidores de Nabal se arrependeu do que fez e foram readmitidos na tripulação, uns poucos cometeram a burrice te permanecer contra o capitão, esses foram cobertos com lonas e amarrados dos pés a cabeça e lançados no mar, é uma pena gastar lonas e cordas com gente daquela estirpe, mas eles mereciam uma punição exemplar.
Pelos seus atos de fidelidade ao capitão, Melchior foi nomeado imediato daquele navio, e dali em diante a paz foi restaurado no Sereia do Mar, se é possível dizer que existe paz entre seres como aqueles.

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